Arquivo | Sem categoria RSS feed for this section

Um homem com 15 anos quer guerra com todo mundo

5 Maio

Existe uma estrela chamada VY Canis Majoris. Ela é 2100 vezes maior que o Sol. O nosso cérebro não tem a mínima condição de imaginá-la – e, no entanto, ela existe. Também ela, a VY Canis Majoris, não pode imaginar que nós existimos – porque somos tão infinitamente pequenos que ela não consegue nos enxergar. Acho que é essa certeza da existência de um mundo real, porém desconhecido e de contornos mágicos, que move a adolescência. E é por isso que eu acho que o Loretto já nasceu adolescente – há 15 anos – misturando realidade e magia.

Loretto sempre manteve os olhos voltados para algo que nós não vemos. Loretto tem prazer em andar sozinho. Loretto quer liberdade de imaginar. Loretto não se encaixa na figura do bom filho. Tem suas ansiedades. Tem poucos e bons medos. Loretto entendeu desde sempre que o mundo é bem maior e bem menor do que o que a gente consegue ver. Então, o que faz tanto sentido para os pais, para os tios e para os avós…talvez seja menos compreensível para o Loretto.

Quando o vô partiu, foi-se embora o único capaz de conectar o Loretto num mundo de sucessivos amanheceres. O cotidiano não é para pessoas como o Loretto, eu acho. E foi difícil reaprender a linguagem que só Loretto sabe falar. Então, Loretto encontrou a rua – no skate e no grafite. O papel e as telas ficaram neste blog. As paredes são maiores. Sem a senha dessa galeria online que modestamente criei para registrar as suas criações da infância, ele fez uma chave para se misturar à cidade. Foi uma amiga grafiteira brilhante que me ajudou a entender que ali existe um caminho – e que o Loretto o estava percorrendo do melhor modo. Obrigada Siss.

Sou uma mãe como qualquer outra. Daquelas que provavelmente tem uma série de padrões e espera que o filho se encaixe neles. Loretto é ótimo porque se encaixa em poucos. Quase nenhum. E embora continuemos muito parecidos, somos diferentes da melhor forma. Enquanto eu perdi a disposição para o atrito, nele, a lixa é nova. E o atrito é a parte esquecida dos nossos quinze anos. Um homem ou uma mulher com 15 anos quer guerra com todo mundo. Só não é assim quando o mundo já conseguiu corroer por dentro os arroubos da juventude – com Rivotril ou com PS4.

A VY Canis Majoris nem pode imaginar um peixe. Não pode imaginar um cigarro. Mas talvez sorrisse ao ver o Peixe Fumando na porta do guarda-roupa do Loretto (imagem abaixo). E lá, de longe, ela não teria as minhas múltiplas encanações de uma mãe que pensa “ah…mas desenho com cigarro…melhor, não, filho…porque a imagem do cigarro…blablabla”. Não. Não somos fumantes. Mas o inimaginável não censura os símbolos e referências da vida – aquela que está diante dos olhos. O inimaginável é curioso para o que há e o que não há. Às vezes ele só quer ser uma imagem na porta do guarda-roupa como quem treina, no quarto, a vida não-convencional do resto do mundo. No resto dos muros.

Parabéns Loretto e obrigada por esses quinze anos de tantos aprendizados. Desculpe se, às vezes, eu não vejo ou não entendo. Lembre-se de que “às vezes” as mães também estão erradas. Só às vezes. Só tantas vezes.

Loretto não assiste à novela Tic Tac…

7 Dez

Tá aí uma coisa que Loretto não assiste...

Tá aí uma coisa que Loretto não assiste…

Hoje teve festa de aniversário de um amigo bem querido do Loretto. Foi muito legal – o tema era Minecraft. Mas o que estava realmente lotando as memórias dos Iphones eram três atores-mirim de novela, primos do aniversariante. Mães pescavam o trio para vários cliques, entre uma brincadeira e outra. Na saída da festa, perguntei para o Loretto se ele já tinha visto aquelas crianças na TV. Ele disse: “Não… parece que eles são de uma novela que chama Tic Tac…”.

Eram da Chiquititas. Segundo o Google, interpretam “Thiago, Tati e Ana”. Isso me fez lembrar do dia em que o Loretto perguntou o que era o Caldeirão do Hulk.

Pensei: “Talvez devêssemos ver um pouco de TV aberta”.

O fato é que nunca proibimos TV aberta. Mas Loretto e Arrigo não se interessam pelo que a TV aberta traz. Loretto, por exemplo, passa horas vendo Animal Planet e documentários sobre II Guerra Mundial (e, nesta semana, me disse que assistiu ao filme “Passageiro 57” inteirinho… Descobri que é um filme de 1992 sobre um homem que combate terroristas…Sei lá em que canal foi isso…).

Daí, depois da festa, voltando à pé pela nossa rua, Loretto olha uma casa e pergunta: “O que será que funciona ali?”. Tinha uma placa com um poliedro 3D em que se lia Vector Equilibrium. Atravessamos a rua para olhar. Duas pessoas nos apresentaram o espaço, onde parece acontecer inúmeras atividades holísticas (entre elas, sessões em Flutuarium – um tanque fechado com água salgada que simula a sensação que um bebê tem no útero…). Loretto reconheceu a ‘rede de apanhar sonhos’ pendurada num canto (foto abaixo), brincou com o diapasão, curtiu o torus, o vector equilibrium em si e outros objetos que pareciam saídos de uma feira de ciências… Quando nos despedimos, ele soltou um: “Que lugar legal, mãe…vamos voltar aí qualquer dia…”.

Pensei: “Talvez seja tarde para começar a ver TV aberta…”.

O mundo é um grande roteiro de novela Tic Tac. Mas o Loretto, definitivamente, nasceu sintonizado em outro canal.

O Loretto adora essa rede de apanhar sonhos

O Loretto adora essa rede de apanhar sonhos

 

Esse é o Vector Equilibrium...

Esse é o Vector Equilibrium…

O Torus é uma estrutura metálica que abre e fecha.

O Torus é uma estrutura metálica que abre e fecha.

Homem atravessado por uma lança: minha primeira escultura

6 Jul

Repare no movimento do boneco que arqueia o corpo ao ser atravessado pela lança. Repare na expressão de “Ih! Me dei mal!” no seu rosto. Elas marcam a estreia do Loretto no universo da escultura. Embora ele sempre tenha demonstrado interesse pela arte (ficou, por exemplo, apaixonado pelas peças de Giacometti na Pinacoteca), ele nunca tinha tido os materiais à mão. De uns tempos para cá, começou a solicitar argila para a vó Isaura. E, no final de semana passado, finalmente conseguiu passar horas sozinho modelando. No total foram alguns bonecos e alguns cogumelos. A composição inteira, que se pode ver nas fotos abaixo, se chama “Luta de homens armados no vale dos cogumelos gigantes”.

Aqui, chamam atenção a expressão de força do boneco maior ao atravessar o outro com a lança, o fato de o boneco menor estar sobre uma tartaruga e o boneco pequenininho, que, segundo o Loretto está ajoelhado pedindo: “Pare, pare!”…

Detalhe de como a lança atravessa o boneco.

Eu amo livros velhos

30 Mar

Loretto já estava amando todos os espaços da EMEF Desembargador Amorim Lima. A oca, a amoreira, a caramboleira, o pátio, o parquinho, o átrio, sua sala de aula… Faltava só conhecer a biblioteca. A primeira visita aconteceu na terça-feira. Agora, ele só fala dos livros de lá. Mas prefere os que considera raros.  Ou seja, os que têm pintas ou páginas amareladas. Seu depoimento é emocionante. É um respiro no universo virtual em que estamos mergulhados.

O MIS fica entre o Mube e o Budário

9 Mar

Quando o Bruno começou a falar da Mostra LabMis, eu pensei: “Nossa, o Loretto vai amar isso!”. E, de fato, ele pirou na sala que tem o vídeo com o Canto das Sereias. É um monumento sonoro e invisível instalado no porto de Quebéc. O canto – lindo, hipnotizante – pode ser ouvido por quem baixar o áudio em seu celular no local. É uma homenagem às mulheres que trabalhavam com radiodifusão em navios na segunda guerra mundial e que morreram no mar.

Mas ele também gostou bastante do cubo com elásticos que deveria ser atravessado à la Missão Impossível (De Novo, Ercília, de Graziele Lautenschlaeger e Rita Wu) – foto acima. Por coincidência, é uma obra baseada em uma das histórias de Cidades Invisíveis, de Ítalo Calvino, e eu estou lendo, nesse momento, O Visconde Partido ao Meio, desse mesmo autor para o Loretto. A outra obra de que ele gostou bastante foi a Floresta Sonora – um local escuro, cheio de placas de metal jogadas no chão, que, ao serem pisoteadas acionam o som de floresta. Imagine como o Loretto sapateou lá…

E…na hora de ir embora, o Loretto viu que encostado ao muro do MIS tem um SPA super chique. Cheio de estátuas do Buda. Daí, veio com essa, que virou o título do post. O MIS fica entre o Mube e o Budário. De modos que, até o dia 25 de março, se você passar na Av. Europa, pode aproveitar para ir nesse quarteirão tão cheio de coisas (que ainda conta com a vizinhança da Lamborghini) para conferir e brincar na Mostra LabMis 2011.

Papai Noel, eu quero uma máquina do tempo

24 Dez

Imagem

Acho que o Loretto descobriu sozinho que o Papai Noel não existe. Feita a descoberta, ele deve ter pensado uma forma bem boa de me sacanear. Pediu uma máquina do tempo. E, ao me entregar a cartinha (cuja foto ficou bem tosca, aliás), ainda emendou: “Se ele não conseguir uma máquina do tempo, pode me dar uma ossada de baleia grande”. Parece aquela piada em que o Joãozinho solta um pum e pede pro Diabo pintar de verde. Bom, Loretto vai ganhar livro – existe máquina do tempo melhor do que essa? Feliz Natal!

Loretto – médico e exorcista!

11 Ago

Vivo dizendo que não devemos confiar em médicos. Talvez, por conta disso, Loretto tenha achado que esse seria um bom disfarce para usar na escolinha. Foi fácil conseguir os apetrechos para vesti-lo de Dr. Loretto. À noite, quando cheguei em casa, perguntei como fora a repercussão da sua fantasia:

_ Foi ótimo – ele disse – todo mundo gostou, eu dei injeção, escutei coração de todo mundo e até curei um menino.

Achei bacana. E pensei que o menino talvez estivesse com tosse, gripe, resfriado…

_ Sério, filho? Que legal! E o que o amiguinho tinha?

_O menino tinha o diabo no corpo…

É o que eu digo: não devemos confiar em médicos.